O ser do ente

10 março 2010

"O nada nadifica" - Heidegger.

Cena: aula de filosofia no prédio da faculdade de filosofia da USP.

O professor diz:*

- Heidegger diferencia o Ser do Ser do ente. O Ser do ente é aquilo que se põe, que se manifesta no encobrimento e no desencobrimento do Ser. O Ser está para além do Ser do ente; nós só vemos o Ser do ente. Heidegger critica toda a filosofia ocidental desde Platão dizendo que essas filosofias metafísicas só se perguntaram sobre o Ser do ente, e nunca sobre o Ser. Sendo matéria de interrogação somente o ser-aí-no-mundo (daisein) e nunca o Ser enquanto É. O É é o são. O São do Ser que É enquanto existe. Para Heidegger o único ser que existe é o homem, e o resto são Ser do ente. As filosofias cristãs diziam buscar o Ser, mas apelavam para Deus [risadinhas irônicas]. Deus era identificado com o Ser como um atalho, uma saída, mas na verdade se continuava somente na interrogação pelo Ser do ente enquanto sendo e não pelo Ser enquanto É. Heidegger via a necessidade de retomar os pré-socráticos, e ele se põe a pergunta de como seria possível fugir do pensar tradicional e voltar a pensar o Ser enquanto questionamento.

Um aluno levanta a mão e pergunta:

- Desculpa, professor, mas é que o senhor falou do Ser tantas vezes que acho que me confundi. Eu não consegui entender; afinal, o que é o Ser para Heidegger?

O professor gargalha e responde:

Mas é exatamente isso! Não tem significado! Não se sabe o que é o Ser. Nós não sabemos o significado. O que você me faz é uma pergunta óntica: o que é o Ser?! Essa é a questão, não existe significado para o Ser! Uma vez um autor provou que o "nada" de Heidegger não significava nada! [risadas] E é isso mesmo, ele provou que Heidegger estava certo, porque o nada realmente nada significa!

Eu me levanto rindo e saio da sala.

***

Muito bem, professor

você me ensinou

quem é o ser doente.

*Texto reconstruido a partir de citações anotadas em aula.

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